Para que serve a utopia?

O Fundo Mundial para a Vida Selvagem – WWF divulgou em seu ultimo relatório os resultados de um recente trabalho onde quantifica o “peso” da pegada da raça humana sobre a Terra.

Esse conceito de “pegada ecológica” é o indicador da pressão que exercemos nos ecossistemas. Individualmente, em média, precisamos de 2,2 hectares para satisfazer nossos padrões de consumo atuais. Só que dispomos apenas de 1,8 hectare. O estudo ainda mostra a desigualdade de “pegadas” pelo mundo: os americanos usam 9,6; Reino Unido, 5,6; Japão 4,4; Brasil 2,1; China 1,6 e Índia 0,8.

Devedores e credores, em média, estão sacando em descoberto de um banco único que não tem como repor este empréstimo. E neste saque indevido, já consumimos 25% do que a natureza pode repor.

Nesta matemática ambiental de problemas em progressão geométrica, estamos permanentemente em déficit Se somarmos todos os relatórios, estudos acadêmicos, pesquisas cientificas, projeções entre outros, chegaremos ao âmago desta equação aparentemente sem solução: é preciso mudar urgentemente e radicalmente nossa escala de valores. Trocar o “ter” pelo “ser”.

Desapegar então, será o verbo que conjugaremos no presente e no futuro. Claro que não é uma tarefa fácil e muitas pessoas diriam até que é inconcebível ousar pensar o mundo de outra maneira, diferente daquela que todo dia mecanicamente nos é ditado. Tirando a preguiça de imaginar de lado é no mínimo um bom exercício para a sobrevivência.

Como ambientalista de carteirinha e um pouco sonhadora gosto muito do termo “simplicidade voluntária”. Parece coisa de hippie quem voltou do Woodstock a pé, mas vencendo os preconceitos é uma idéia tentadora. Explico melhor.

Simplicidade é depurar o que realmente nos contenta e eliminar aquilo que excede e pesa sobre nossos ombros. Simples, não! Quando optamos pela simplicidade ganhamos tempo. Imagine então sermos donos do nosso tempo. Tempo para fazer modelagem em barro, de nadar, de descobrir com as crianças o final de uma trilha de formigas ou simplesmente se permitir ficar em frente a um lago num final de tarde ensolarado. Não é tão ruim assim, não é?

Agora, viver voluntariamente é viver de modo intencional, consciente e deliberado. Externamente mais simples, mas internamente mais rico.

Imagine como será para as nossas instituições (que existem por que acreditamos nelas), quando despertarmos para a realidade de que é preciso muito pouco para ser feliz e que os melhores prazeres da vida custam quase nada.

Realmente uma revolução inimaginável que começa com a ousadia de cada um de nós de nos reinventarmos... De buscarmos o melhor em nós mesmos... De procurar dentro e não fora, a satisfação de existir...

Utopia?
Como diria meu sábio pai: para que serve a utopia se não para caminharmos...

Anna Frota
www.antenaverde.org.br